2003/12/21

AQUELE OUTRO

O dúbio mascarado - o mentiroso
Afinal, que passou na vida incógnito.
O Rei-lua postiço, o falso atónito -
Bem no fundo, o cobarde rigoroso.

Em vez de Pajem, bobo presunçoso.
Sua Alma de neve, asco dum vómito -
Seu ânimo, cantando como indômito,
Um lacaio invertido e pressuroso.

O sem nervos nem Ânsia - o papa-açorda,
(Seu coração talvez movido a corda...)
Apesar de seus berros ao ideal.

O raimoso, o corrido, o desleal -
O balofo arrotando império astral:
O mago sem condão - o Esfinge gorda...

(Mário de Sá-Carneiro, Paris - Fevereiro 1916)